domingo, 19 de julho de 2009

Negócio ruinoso para o Estado, negócio milionário para outros

É um próprio organismo do Estado que diz que o negócio do terminal de contentores de Alcântara é ruinoso para o Estado.
É um negócio que envolve, directa ou indirectamente, o actual ministro das Obras Públicas, Mário Lino, e um ex-ministro das Obras Públicas do PS, Jorge Coelho.

O relatório final do Tribunal de Contas acusa o contrato de exploração do terminal de contentores de Alcântara de só favorecer os interesses da Liscont, a empresa do grupo Mota-Engil - cujo Presidente é Jorge Coelho.

O acordo firmado entre o Governo e a Administração do porto de Lisboa com a empresa, que prevê a concessão sem concurso público alargada até 27 anos, é ruinoso para o Estado e não acautela o interesse público, uma conclusão que confirma o parecer do relatório preliminar de Outubro de 2008.

Em Outubro de 2008, Mário Lino anunciou que o governo vai investir 407 milhões de euros na zona de Alcântara para, até 2013, mudar o terminal de contentores e a localização das linhas de comboio.

Por muito que o Governo diga é um bom negócio, é incompreensível que se façam negócios de tantos milhões sem concurso público.
É um concurso público que permite comparar propostas. Ninguém compra um pacote de leite, uma televisão, um carro, sem uma comparação mínima de preços. Só se consegue ver se uma proposta é boa, comparando com outras. Para este tipo de obras, só se consegue comparar propostas, tendo em cima da mesa efectivamente várias propostas, por concurso público.

Assim, esperamos que os mecanismos que há na lei anulem este negócio considerado ruinoso pelo Tribunal de Contas e que se punam os responsáveis por esse, se efectivamente os interesses do Estado foram consciente ou negligentemente prejudicados.

Esperamos também a desclassificação, já pedida, de documentos sobre ampliação do terminal de contentores. Quem não deve, não teme.

Fontes:
http://economia.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1392144&idCanal=57
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1327105
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1348774
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1324648

domingo, 12 de julho de 2009

Direitos de deputados ou privilégios de quem legisla para si próprio?

Foi notícia em 2005: "José Sócrates ataca 'luxos' e 'privilégios' dos políticos".

Na altura terão acabado alguns luxos e privilégios por demais injustificáveis.

Sócrates acrescentou: "Não tocar nesses privilégios é que era contra a dignidade e o prestígio da classe política, porque haveria nós e eles. Desta vez, não há nós e eles".

De acordo absoluto com estas palavras.

No entanto, ainda subsistem muitos privilégios inadmissíveis, alguns já aprovados durante esta legislatura. Os dois abaixo apresentados, referentes a deputados, serão dos menos graves, mas saltam à vista.

Palavra dos deputados "faz fé" para justificar faltas - deputados podem faltar cinco dias sem apresentar justificação." A palavra do deputado faz fé, não carecendo por isso de comprovativos adicionais". É esta a redacção do ponto sete do regime de presenças e faltas dos deputados em plenários, que o presidente da Assembleia da República fez aprovar. Jaime Gama acabou por deixar a possibilidade de os deputados poderem alegar ausência por motivo de doença sem que para isso seja necessária a apresentação de quaisquer justificativos nos primeiros cinco dias.

Assim, ao contrário da população normal, os deputados não têm que justificar as faltas, bastando a sua palavra. Esta regra deve assentar de um pressuposto que os deputados são mais honestos que a restante população, pois a sua palavra vale mais que a dos demais.

Como é sabido a selecção para deputado é feita na máquina partidária, no meio de muitas pessoas que mais não fizeram na vida que lutar por algum cargo público ou no partido. Claramente, como é evidente pelos resultados, este método não selecciona pessoas mais honestas e éticas, pois se assim fosse, nunca aprovariam uma lei que lhes dá privilégios negados ao geral da portugueses.

Dia de contacto com os eleitores - Os deputados, para além de um horário em geral folgado, têm um dia de folga. Só que o dia de folga não é chamado de dia de folga. É chamado de dia de contacto com os eleitores e ocorre pegado ao fim-de-semana, à segunda-feira.

Têm os deputados a obrigação de ter um horário, nesse dia de contacto com eleitores, para receber e ouvir os eleitores que os queiram contactar? Não. Tem os deputados a obrigação, nesse dia de contacto com a população, de estarem no distrito pelo qual forem eleitos, de forma a contactarem os eleitores que os elegeram? Não. Podem os deputados aproveitar o fim-de-semana prolongado que o "dia de contacto com os eleitores" proporciona e viajarem para o estrangeiro, nomeadamente para países debaixo de ditaduras, onde não há eleitores, nem portugueses nem outros? Sim.

Tão claramente este "dia de contacto com os eleitores" é um eufemismo criado por chico-espertos que têm vergonha de dizer que têm dias de folga, que se por alguma razão um deputado tiver que abdicar deste dia para trabalhar, por exemplo, numa comissão, na semana seguinte tem direito a dois dias de “contacto com os eleitores", faltando assim a uma sessão do plenário.

Muitos mais exemplos haverá, por agora ficam estes dois. Esta vergonha abrange todos os deputados, mesmo aqueles que não faltam à palavra a justificar faltas ou que tentam aproveitar este dia para efectivamente contactarem os eleitores. Porque pactuam com isto: bastava um deputado apresentar uma proposta para acabar com estas duas vergonhas, que quem votasse contra estaria a dizer a todo o país que concordava com este regime de privilégio. Nesta altura, por exemplo, nenhum partido quer essa imagem.

Fontes:
José Sócrates ataca privilégios
Palavras dos deputados faz fé
Regimento da Assembleia da República (Deputados e grupos parlamentares)

domingo, 5 de julho de 2009

Acumulação de salários

Prática comum é a acumulação de cargos públicos e respectivos salários.
Há alguns anos que autarcas descobriram que uma boa forma de aumentarem os seus rendimentos é criarem empresas municipais e depois terem lá algum cargo.
Não se compreende: então os cargos que têm como presidentes da câmara ou outros são a tempo tão parcial que podem acumular com outros?
Mais uma vez a Câmara de Lisboa é um excelente exemplo.
Eduarda Napoleão, ex-vereadora do Urbanismo da Câmara de Lisboa, recebeu em 2003 um total ilíquido de 133.684 euros da câmara e de uma empresa ligada ao município, e acumulou, a partir de Março de 2003, as suas funções autárquicas com as de presidente da Ambelis, uma empresa criada no mandato camarário de Jorge Sampaio com o fito de promover o desenvolvimento económico de Lisboa (com sucesso: pelo menos desenvolveu a economia desta vereadora).
Eduarda Napoleão recebeu, em 2003, 47.954 euros como vereadora e e 85.730 como presidente da Ambelis. No entanto, aparentemente terá havido um engano a processarem-lhe o salário como vereadora, pois, a partir de Maio desse ano, por obrigatoriedade legal, estaria apenas a meio-tempo desse cargo. Esta senhora não reparou no engano e só no ano seguinte devolveu parte do dinheiro, cerca de 16 mil euros.

"Distracções" à parte, esta senhora acumulou dois cargos pagos com dinheiros públicos, um dos quais numa empresa que poucos pessoas devem saber o que faz e para que serve. Nos meses de 2003 em que foi presidente dessa empresa - a meio tempo, visto que no outro meio tempo foi vereadora - ganhou mais de 85 mil euros só por essa função.

Perguntas
  • Que qualidades e currículo tem esta senhora , licenciada em Artes Plásticas e Pintura, para o seu meio-tempo a presidir a uma empresa pública seja tão precioso?
  • O que faz esta empresa, intitulada "Ambelis - Agência p/ Modernização Económica de Lisboa, S.A.",que nem site de Internet tem, que justifique pagar estes salários?
  • Como é que uma senhora tão competente não repara que durante oito meses a Câmara lhe andou a pagar o salário por inteiro quando ela estava a meio-tempo?
  • Porque motivo tem Lisboa e o país vereadores que, por sua opção, podem passar a trabalhar apenas a meio tempo? Se apenas são necessários a meio tempo, porque lhes pagamos o tempo inteiro?
  • Quem faz estas nomeações? Com que critérios? O que faz actualmente esta senhora? O que ela fez na vida para além de cargos públicos e em empresas públicas?
  • Para além do mais, nesta situação, foi violada uma lei de 1988 que estabelece um tecto de 75 por cento do somatório do vencimento e despesas de representação do Presidente da República para o total das remunerações ilíquidas de quaisquer titulares de cargos e funções públicas, ainda que em regime de acumulação. Alguma consequência desta lei ter sido violada? Devolvido o dinheiro que ultrapassava o valor máximo estipulado por lei?
  • O actual Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, vai acumular agora o cargo de Ministro da Economia. Vai receber o dobro? Se sim, porquê? O actual cargo era a part-time? Se não vai acumular salários, porque é que Eduarda Napoleão e tantos outros acumularam e acumulam?

Fontes
Mais informação sobre este caso
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1226638&idCanal=21

Notícia em que esta mesma senhora é acusada pelo Ministério Público de crime de prevaricação de titular de cargo político
http://dn.sapo.pt/inicio/interior.aspx?content_id=1001256

Textos publicados até ao momento

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  • Propostas concretas: quem pega nelas?
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  • As regras que fazemos são para os outros
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  • Ricardo Rodrigues, o rosto do PS de combate à corrupção
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  • ? Qualificações: saber fotocopiar e ter um irmão deputado. Salário: 20 mil euros mensais ?
  • O combate à corrupção em Portugal
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